25 fevereiro 2023

POR QUE INCENTIVAR AS POLÍTICAS AFIRMATIVAS NA COMUNICAÇÃO POPULAR?

Políticas afirmativas são essenciais para garantir igualdade de oportunidades.

Estamos em 2023 e ainda precisamos explicar a necessidade das políticas afirmativas. Isso não significa que pessoas antirracistas não estejam fazendo seu papel, pelo contrário, demonstra que nossos esforços estão gerando resultados. 

Embora os programas de reparação ainda não estejam sendo implantados da forma que queremos, o fato de serem debatidos pelas pessoas indicam um avanço importante.

3º Edição do projeto "Sou Negra e Quero Falar", de formação para influenciadoras negras. 
Belo Horizonte | 2019 - Foto: Lívia Teodoro

Em 2015, surgiu o Clube de Blogueiras Negras, criado para ajudar mulheres negras que produzem conteúdo a ter acesso a conhecimento e divulgação do seu trabalho, buscando justiça e igualdade nas redes. Antes do desafio da divulgação, sempre esteve a missão de mostrar à sociedade os efeitos históricos do racismo no trabalho dessas comunicadoras. 

A população negra de modo geral enfrenta desigualdade em muitas áreas, desde dinheiro até preconceito ao tentar produzir conteúdo para o público. Não há uma cultura de consumo do que é produzido na internet por pessoas negras quando este conteúdo não é racializado.

Quando alguém procura conteúdo aleatório, como dicas de viagens ou filmes, quantas mulheres negras estão entre os criadores favoritos? Seguimos relegando esta parcela da população a falar apenas sobre raça. E este tipo de conteúdo acaba ficando conhecido como “conteúdo militante”, entre muitas aspas, afinal, a militância negra está muito além da internet. 

Vivemos em uma sociedade que costuma colocar influenciadoras negras em uma categoria específica, em que sua função é apenas ensinar sobre questões raciais. E falar sobre racismo dá dinheiro, mas geralmente não para as mulheres negras.

A carreira de influencer exige capital financeiro para que todas as outras demandas sejam desenvolvidas e mulheres negras historicamente não têm os recursos financeiros necessários. Seja para ter equipamentos de qualidade ou mesmo o tempo para pesquisa, produção, edição, revisão e divulgação de seus conteúdos. 

E é evidente que existem produtoras de conteúdo negras que são ricas, mas as exceções existem para confirmar a regra.

Segundo uma pesquisa do IBGE de 2018, a maioria das pessoas que viviam em extrema pobreza eram pretas ou pardas, representando 75% desse grupo. Isso é desproporcional, já que negros representam 55,8% da população total do Brasil.

Isso quer dizer que as influenciadoras negras têm menos chance de ter condições para realizar seu trabalho, porque, proporcionalmente, apesar de serem minoria no país, a maioria das pessoas com mais dinheiro são brancas.

A falta de dinheiro para se preparar para a realização do trabalho não impede, no entanto, que mulheres negras se disponham a ocupar seu lugar na internet e soltar a sua voz. E a meritocracia não pode ser usada como medida para o sucesso, afinal, como já dito anteriormente, é preciso muito mais que a vontade de produzir conteúdo para colocar seu trabalho no mundo.


A solução para o problema da desigualdade racial começa com políticas afirmativas de reparação. Essas políticas buscam corrigir desigualdades históricas sofridas por pessoas negras e indígenas no Brasil, garantindo o direito ao acesso a oportunidades como educação, emprego e representação política. 

Em 2011, um estudo publicado pela 4ª edição da revista Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça  mostrou que havia uma disparidade de gênero, raça e educação formal. Os dados apontaram que em 2009, apenas 48,7% das mulheres negras com 16 anos ou mais tinham 9 anos de estudo, ou mais, enquanto 65,5% das mulheres brancas na mesma faixa etária tinham essa escolaridade.

UM POUCO DE HISTÓRIA

A história das políticas afirmativas antirracistas no Brasil remonta à década de 1950, quando o Movimento Negro Brasileiro começou a se organizar para lutar contra a discriminação racial e a desigualdade social. A Frente Negra Brasileira foi criada em 1951 com este objetivo. 

Na década de 1960, com o impulso da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, surgiram no Brasil movimentos como o Quilombo dos Palmares e a União de Negros pela Igualdade (UNEGRO), que reivindicavam políticas públicas para combater a discriminação racial e a exclusão social.

Anielle Franco. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

 

Foi somente em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, que teve participação ativa do Movimento Negro Unificado (MNU), que o país reconheceu a existência do racismo e passou a garantir em lei o direito à igualdade de todos.Desde então, diversas políticas públicas foram criadas para de promover a igualdade racial, como as cotas raciais em universidades e concursos públicos, a Lei de Cotas para negros em empresas e a criação de órgãos governamentais como a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR).

Hoje o Brasil vê renascer o Ministério da Igualdade Racial, comandado pela ministra Anielle Franco, e com ele a esperança de que possamos retomar políticas públicas de combate ao racismo.

POLÍTICAS AFIRMATIVAS CONTRIBUEM PARA A EQUIDADE RACIAL

O Clube de Blogueiras Negras também tem este objetivo. Proporcionar oportunidades a mulheres negras (e outras minorias sociais), que muitas vezes são negadas a elas. O foco é promover o acesso ao conhecimento e ferramentas essenciais para produzir trabalhos de qualidade.

Desde a sua criação, o Clube de Blogueiras Negras formou mais de 50 mulheres negras. Embora isso não resolva a questão do racismo no Brasil, é uma importante contribuição para alcançar a equidade racial.

Clube de Blogueiras Negras realiza a 1º Mostra Nacional de Mídia Negra e Feminina

Projetos como o Clube de Blogueiras Negras, que focam suas ações em um público específico, têm a missão de mostrar à sociedade os efeitos históricos do racismo no mercado de trabalho para comunicadoras negras, promovendo a equidade no acesso ao conhecimento.

A desigualdade estrutural para a população negra ainda é uma realidade, mas é preciso continuar lutando para garantir que todas as pessoas tenham acesso igualitário ao conhecimento e oportunidades para expressar suas vozes.

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