30 outubro 2021

Como ter um relacionamento saudável entre mulheres pretas, ou

Como eu descobri que me relacionar com outra mulher negra não era sobre viver numa eterna vingança?

Não é preciso ser especialista no assunto para dizer o quanto experiências ruins influenciam em como nós vivemos novos relacionamentos na vida. Tive um professor que dizia “o conhecimento entra pelo c*, afinal, é quando a gente toma no c* que aprende!” Eu não penso que ele esteja errado. Mas acredito fazer parte do amadurecimento humano aprender de outras formas que não seja sofrendo e passando por traumas.



A experiência de ser uma pessoa psicanalisada com certeza têm influência sobre tudo que você lerá a seguir. Mas, amadurecer também é uma maneira de ressignificar o que as experiências da vida fazem com a gente.

Viver relacionamentos em que você está sempre dando o troco é adoecedor. À medida que você e a sua parceira (ou parceiro) passam a transformar o namoro, casamento, ou seja lá qual for a relação em uma espécie de ringue a briga só acaba quando uma das partes não aguenta mais. É daí que vem grande parte dessa fama de que apenas as experiências ruins ensinam. Mas este é um convite sério para que você repense a forma que você está usando o aprendizado de outras relações nesta que você está vivendo agora.

A vivência de uma mulher preta em relacionamentos comumente é marcada por experiências traumatizantes e temos a tendência de pensar que a culpa é nossa. Quando a dor é muito intensa o risco é de que usemos essa dor para ferir a outra. Geralmente é a próxima pessoa da sua vida que vai arcar com os custos de um relacionamento anterior adoecido e que ainda te machuca.

Então o que temos até aqui é algo que costumo chamar megazord da desgraça. A junção de vários fatores ruins que resultam quase sempre em descontar na outra quando você se sente atacada. Sua parceira sai para se divertir com os amigos e você sai também para revidar a dor que você sentiu, não porque também quer se divertir com seus amigos. Sua parceria fala com alguém que lhe causa ciúmes e você resolve retomar uma relação que provoca ciúmes nela também. E por aí vai. Ao invés de conversar você transforma a sua dor numa arma para ferir. Onde é que isso vai parar?

Experiências são individuais e eu espero que você não pense que a partir daqui vamos seguir uma lista de conselhos para que você deixe de descontar sua dor na sua parceria. Mas é possível fazer coisas simples como: olhar para a sua dor com respeito e tentar entender de onde ela vem. Se é realmente responsabilidade de quem está ali ao seu lado nessa nova relação ou das cicatrizes de outras relações que te machucaram?

Quando você olha para sua dor com respeito e tenta identificar de onde ela vem, fica fácil fazer outra coisa muito importante no processo de cura: conversar de maneira madura sobre o que te machuca. Coisa que é muito difícil fazer quando você viveu relações com histórico de silenciamentos e fugas. Mas se agora você está numa relação melhor deve haver espaço para conversar sobre essa dor abertamente. Se não, isso é um sinal de alerta.

A ideia de que vivendo experiências ruins e traumatizantes aprendemos mais pode causar a sensação de que é assim que vamos ensinar as nossas parceiras como queremos ou devemos ser tratadas. Não é só o sofrimento que ensina. Nós, mulheres negras, somos ensinadas a suportar toda a dor do mundo. Não é nossa obrigação carregar isso nas costas. Muito menos colocá-la nas costas de outra mulher que se parece conosco.


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