11 janeiro 2018

SOBRE SAUDADE, AMOR E SOBRE COMO A GENTE CONFUNDE ISSO COM POSSE


Muito se discute sobre monogamia x poligamia e, na verdade, este texto não tem a menor intenção de ser sobre isto. Sentir saudade não tem a ver com isto, necessariamente. 

Enquanto você está com alguém é normal sentir saudade, é normal sentir vontade de ter por perto, mas, você já parou para pensar que você só sente falta de alguém que necessariamente por alguns momentos não está perto de você? Como diria minha avó "muito amor vira tumor", é um jeitinho engraçado dela dizer que pessoas que se amam muito e se grudam o tempo inteiro tendem a transformar rapidinho aquele monte de amor e doença. Claro que do jeito simples de dizer da minha avó ela não estava considerando relacionamentos abusivos e violentos, estamos falando aqui da nossa dificuldade as vezes de entender que saudade nem sempre é estar juntos, saudades as vezes pode ser um bom sentimento para te lembrar o quanto é bom ter aquela pessoa por perto, quando ela está por perto. Sentir saudade não é um apito ou um sino que você toca, "ei, vem cá", sentir saudade talvez seja um lembrete do seu coração de "olha, lembra como é bom quando fulano (ou fulana) está por aqui?"

Saudade é uma palavrinha bem brasileira, não que só nós sejamos capazes de sentir, mas, é no nosso idioma que existe grafia e significado para expressar essa dorzinha gostosa 

"Mas, nossa, saudade é um trem que tipo uma dorzinha gostosa, que você vai apertando pra ver até onde fica bom, aí quando você tá com a pessoa é como se você parasse de apertar um pouquinho, sabe?" (Lívia Teodoro)

A parte chata é quando a gente confunde essa saudade com posse, confunde a falta que a pessoa faz com uma necessidade absurda de ter a pessoa ali, cem por cento do tempo por perto e presente, porque, convenhamos, é diferente estar perto e estar presente, não é mesmo? Nossos celulares que o digam!

O problema da saudade não é sentir, a saudade é natural, é boa, o problema da saudade é quando misturada a outros sentimentos que as vezes nem sabemos que existe, vira posse, vira controle. Saudade está longe de ser um sentimento exclusivamente afetivo, exclusivamente homem-homem, mulher-homem, mulher-mulher, pessoa sexualmente interessada - pessoa sexualmente interessada, mas também existe saudade entre amigos, entre pessoas e lugares, pessoas e hábitos. Já pensou se pela sua saudade o outro tiver que abrir mão das saudades dele? Então, como fica a necessidade do outro de "parar de apertar um pouquinho a saudade?", hein?

Pense na sua saudade como um combustível para existir, não algo que te sufoca ou que deverá sufocar o outro. Como disse, saudade é um sininho que avisa "olha, como é bom quando o outro tá aqui, que tal a gente curtir mais quando o nosso momento chegar?", pense na saudade como algo bom, como algo que você só sente do que te faz bem, por fim, pense também que o outro também tem as saudades dele, só dele.

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