22 abril 2024

Quem Tem Medo da Vagina? Mitos, Verdades e Cuidados Essenciais

abril 22, 2024 0

Descubra a verdade sobre a higiene íntima e cuide da sua saúde vaginal com carinho e conhecimento. Mitos, verdades e dicas essenciais para manter sua vagina saudável e feliz.

Esta imagem foi gerada por inteligência artificial.

Há muitos segredos sobre a nossa vagina e a higiene íntima que raramente são compartilhados. Seja por vergonha, tabu ou simplesmente porque muitos acreditam que “todo mundo já sabe disso”, informações importantes acabam passando despercebidas, e muitas mulheres cometem erros que podem prejudicar a saúde íntima. Por isso, proponho falarmos sobre alguns pontos que considero essenciais quando o assunto é cuidar da nossa “perereca”, “pepeca”, ou independentemente do nome carinhoso que você use para se referir a ela.

Primeiro, é importante desmistificar a ideia de que a vagina é suja ou promíscua. A verdade é que ela possui um cheiro característico, que pode variar conforme a alimentação e o ciclo menstrual. Como já disse uma amiga minha, “quer cheirinho de flor, vai lamber sabonete!” A nossa vagina tem um cheiro próprio, e isso é absolutamente normal. O cheiro só deve preocupar quando for muito forte e acompanhado de sintomas como corrimento com cores anormais.

Outro ponto que merece destaque são os pelos na região íntima. Cada mulher tem sua preferência em relação à depilação, e isso é totalmente válido. Porém, é importante entender que os pelos têm uma função protetora. A remoção excessiva, seja com lâmina, cera ou cremes depilatórios, pode causar irritações e desequilíbrios na flora vaginal. Então, se você gosta de manter a região com menos pelos, considere utilizar a boa e velha tesoura para apenas aparar os pelos.

Sabonetes íntimos? Esqueça! A vagina, que é a parte INTERNA do aparelho reprodutor feminino, é autolimpante e possui sua própria flora bacteriana saudável. O uso excessivo de produtos químicos pode desequilibrar essa flora, causando problemas. Portanto, o ideal é evitar sabonetes íntimos e dar preferência à água durante a higiene. Já a vulva, sendo a parte externa, pode ser higienizada com água e sabão normalmente, sem exageros. É importante conhecer a anatomia dos corpos com vagina e sabermos exatamente a que partes estamos nos referindo quando falamos sobre ser autolimpante. A lubrificação natural e a flora vaginal são responsáveis por manter a região limpa e saudável na medida certa.

Quanto ao uso de protetores diários, é importante permitir que a vagina respire. O uso constante desses produtos pode abafar a região, favorecendo o aparecimento de odores desagradáveis. O mais indicado pelos médicos é optar por calcinhas de algodão e, sempre que possível, dormir sem calcinha para deixar a região respirar.

Se for necessário, o uso de lubrificantes à base d'água é recomendado, pois não alteram a flora vaginal. Lembre-se sempre de respeitar o funcionamento natural do seu corpo e evitar produtos químicos desnecessários.

Por fim, a higienização das calcinhas também merece atenção. Lavar a peça com sabão neutro e secá-la ao sol é a melhor maneira de garantir a eliminação de bactérias nocivas. Essas bactérias podem causar diversos problemas, como a candidíase vulvovaginal, uma infecção causada por um fungo chamado Candida. Esse fungo possui várias espécies, sendo a Candida Albicans a mais comum e responsável por 70% a 80% dos casos de candidíase vaginal. É importante ressaltar que a candidíase não está relacionada as infecções sexualmente transmissíveis (IST's). 

Em resumo, é importante lembrar que este texto foi escrito por alguém com uma vagina, não por um profissional da saúde. Além disso, é fundamental ressaltar que vaginas não estão restritas apenas a mulheres, pois homens trans e pessoas não-binárias também podem ter esse órgão. Portanto, cada corpo é único, e é essencial buscar informações de fontes confiáveis e, se surgirem dúvidas, sempre procurar um profissional habilitado na área para orientação adequada. Cuide da sua saúde íntima com carinho e conhecimento!

11 janeiro 2024

Não é possível resumir a complexidade racial do Brasil às telas do Big Brother

janeiro 11, 2024 0

O Big Brother Brasil como reflexo e palco de debates raciais complexos, expondo chagas sociais do país que deveriam ir muito além das redes sociais

Seja você fã ou não de reality shows, é provável que já tenha tomado conhecimento de que começou mais uma edição do Big Brother Brasil. O programa de televisão envolve a convivência de pessoas que não tinham contato prévio, passando aproximadamente três meses confinadas em uma casa, competindo por um prêmio milionário.


O cenário do Big Brother Brasil tem se revelado como um palco inusitado para debates raciais complexos, proporcionando uma visão escancarada das feridas sociais que o Brasil carrega desde a abolição da escravidão. 

Já nos primeiros dias, um incidente ocorreu, oferecendo subsídios para análises equivocadas feitas geralmente pela branquitude. Esse episódio é particularmente significativo para aqueles que sustentam a noção errônea de que “o racismo é fomentado pelos próprios negros” ou, ainda mais problemático, a crença de que os casos mais severos de discriminação racial provêm de indivíduos negros dirigidos a outros negros. Neste caso específico, um participante negro dirigiu termos ofensivos, incluindo a expressão pejorativa “macaca”, a uma colega também negra.


O debate, naturalmente, está se desenrolando intensamente nas redes sociais. É possível observar uma expressiva manifestação de indignação de muitos, enquanto outros tentam justificar o ocorrido alegando falta de familiaridade com o debate racial. Conforme previsto, algumas pessoas estão pedindo pela expulsão do participante em questão por seu comportamento racista, ressaltando, porém, que punições graves nunca são aplicadas a participantes brancos que tenham cometido a mesma transgressão.

Desde o início da sua história, o Brasil enfrentou dificuldades em lidar com debates raciais devido à escassez de políticas efetivas de reparação e promoção da igualdade racial. A ditadura militar, por exemplo, institucionalizou o mito da democracia racial, silenciando e perseguindo militantes do movimento negro que lutavam pela igualdade. Esses traumas sociais persistem e contribuem para nossa dificuldade em discutir abertamente o racismo, empurrando o problema para debaixo do tapete.

Histórico de racismo na casa mais vigiada do Brasil

O BBB revisita anualmente a discussão racial de maneira categórica e televisionada para milhares de brasileiros e muitos desses expectadores jamais tiveram contato com o debate aprofundado sobre raça no país. Assim, o reality show se torna não apenas uma vitrine de entretenimento, mas também um reflexo do problema racial ainda não resolvido em nossa sociedade.

Na edição de 2023, o participante Fred Nicácio sofreu racismo religioso e confrontou abertamente seus agressores. Mas, outros casos já haviam acontecido em rede nacional.

Na edição 21, João Luiz Pedrosa enfrentou comentários racistas relacionados ao seu cabelo, gerando repercussão nas redes sociais. Contudo, o participante responsável pelas agressões não sofreu consequências significativas. O cancelamento da cantora Karol Koncá também provocou questionamentos sobre a seletividade nas críticas, revelando um padrão de julgamento desigual para participantes negros que protagonizaram discussões duvidosas no programa.

A intolerância religiosa também aconteceu em 2019, quando a edição viu participantes protagonizando falas preconceituosas e tendo Rodrigo França, praticante de religião de matriz africana, como alvo das agressões. Surpreendentemente, as falas racistas não impediram a participante responsável de conquistar o título de campeã, demonstrando uma aprovação das atitudes discriminatórias por parte do público.

Racismo não deveria ser entretenimento

É fato: o Big Brother Brasil, expondo participantes negros a casos de racismo, joga luz sobre um problema real e cotidiano no Brasil. A diferença crucial é que o programa, transmitido 24 horas por dia, transforma comentários que muitos fariam “sem ninguém ouvir” em debates públicos, alcançando centenas de milhares de espectadores. 

O Brasil é um país fundamentado em uma estrutura que perpetua o racismo, resultando na experiência inevitável de violência para qualquer indivíduo negro. A presença persistente dessa realidade racial impõe-se de maneira sistemática ao longo da vida, tornando-se uma experiência compartilhada por todos aqueles pertencentes a essa comunidade; por isso, é inevitável o debate.

Em janeiro do ano passado, uma reportagem da BBC News revelou um aumento alarmante de 106% nas denúncias de intolerância religiosa  a 2022. Notavelmente, a maioria dessas denúncias foi apresentada por praticantes de religiões de matriz africana. Surpreendentemente, 60% das vítimas eram mulheres. No entanto, é plausível que esse número seja subestimado, considerando que nem todos os casos recebem a mesma atenção que um reality show de grande audiência e que muitas vítimas hesitam em denunciar devido ao receio ou à falta de confiança no sistema judiciário.

A gente não quer só se engajar no ativismo, a gente também quer se divertir!

Estas duas coisas não deveriam se opor. É importante reconhecer o direito de todos a consumirem entretenimento sem enfrentar diversas formas de racismo no pacote. Exigir diversidade na TV é legítimo, assim como é o direito das pessoas negras de se entreterem sem sofrer violência. 

A responsabilidade agora é de todos nós para aproveitarmos a repercussão racial em um dos programas de maior audiência do país como vitrine para iluminar pautas raciais com sensibilidade, cientes de que, mais cedo ou mais tarde, essas discussões precisarão acontecer. Também é fundamental entender que o engajamento não deve se limitar às redes sociais, pois as conversas sobre questões raciais devem obrigatoriamente ir além desse ambiente. Além de participar ativamente online, é essencial promover diálogos offline, em nossas comunidades, escolas e ambientes de trabalho, ampliando o alcance das discussões para fora das plataformas digitais.

Frente a essa conjuntura, é plenamente justificável acolher a oportunidade que o Big Brother Brasil oferece para a exposição e discussão das complexidades raciais ainda presentes em nossa sociedade. No envolvimento com o entretenimento, torna-se imperativo manter os olhos abertos para as questões genuínas que o programa destaca, uma vez que a sua ampla visibilidade proporciona uma oportunidade relevante para abordar temáticas importantes relacionadas à igualdade racial e ao combate ao preconceito. A virada de chave está na participação ativa que não se limite ao período do reality show, mas se torna um compromisso de vida em combater preconceitos e promover a inclusão, mesmo quando as câmeras do programa se apagam. 

11 dezembro 2023

Além da tela: o silenciamento das influenciadoras negras na publicidade brasileira

dezembro 11, 2023 0

Descubra como o racismo estrutural relega criadoras de conteúdo pretas a um segundo plano, excluindo-as do cenário publicitário brasileiro



Você já parou para pensar sobre quem são as verdadeiras protagonistas por trás das telas nas redes sociais? Atualmente, no Brasil, um problema persistente silencia vozes criativas e inovadoras. Estou falando da exclusão das influenciadoras negras do mercado publicitário. Essas criadoras de conteúdo pretas, apesar de suas habilidades e engajamento excepcionais, enfrentam uma barreira invisível, uma consequência do racismo institucional que permeia o cenário publicitário brasileiro. Neste texto, mergulharemos nas causas e consequências dessa exclusão, explorando números, depoimentos e desafios enfrentados por essas criadoras de conteúdo. 

No centro dessa exclusão, está como as influenciadoras negras são excluídas das publicidades que não são voltadas especificamente para a comunidade negra. O racismo institucional tece uma trama complexa, fazendo com que empresas e agências enxerguem apenas as criadoras de conteúdo negras como porta-vozes de temas relacionados à raça ou cor da pele. Este viés limitador não apenas cerceia oportunidades, mas também perpetua estereótipos, reduzindo a diversidade de vozes e perspectivas nos espaços digitais. 


Em busca de um esterótipo

Quando agências precisam pensar em campanhas em temas generalistas, mesmo influenciadoras capazes de engajar diversos públicos, são frequentemente deixadas de lado. A preferência pela imagem de figuras brancas persiste, alimentando o imaginário racista brasileiro, que associa a confiabilidade e competência a figuras brancas.

O racismo institucional coloca em segundo plano produtoras de conteúdo competentes e com qualidade de engajamento na hora de falar de produtos, eventos e marcas que não apelam para a raça. Um erro, pois pessoas negras consomem em diversos nichos, ultrapassando as barreiras de produtos/marcas considerados nichados.

Segundo reportagem do jornal O Globo, publicada em dezembro de 2021, sobre influenciadoras negras:O apoio de que precisam fica explícito em números: dos mais de 900 mil perfis de influenciadores cadastrados na plataforma de dados da SamyRoad, empresa de marketing de influência, apenas 20% são de pessoas negras. Mesmo presentes em 56 segmentos diferentes, elas não predominam entre usuários com mais de 5 mil seguidores.” 

Não importa o quão embasado e diferenciado seja o seu conteúdo, influenciadoras negras vão ficar atrás, às vezes, de perfis que só postam selfie e “comprinhas”, que se sobressaem simplesmente por serem maioria branca da Zona Sul. Isso é cansativo, porque sempre somos empurradas para longe, mesmo sendo ótimas — apontou a influenciadora digital Cecília Boechat à reportagem.


Uma análise aprofundada sobre a exclusão de influenciadores pretos na publicidade

Em meio a esse cenário desafiador, a exclusão de comunicadoras negras dos conteúdos patrocinados nas redes sociais torna-se ainda mais alarmante quando observamos dados recentes. De acordo com uma pesquisa abrangente realizada por organizações como Black Influence, Site Mundo Negro, YOUPIX e Squid, onde aproximadamente 760 criadores de conteúdo, entre brancos, pardos, pretos, amarelos e indígenas, foram ouvidos, resultados revelaram uma disparidade evidente, com os influenciadores pretos sendo menos contratados para campanhas de publicidade

Mesmo entre aqueles que já participaram de alguma campanha, a proporção é 17% menor do que a média geral das respostas. Essa desvalorização no mercado é refletida nos números salariais, onde influenciadores brancos recebem, em média, R$ 564 por ação publicitária nas redes, enquanto os pretos recebem R$ 496, e os pardos, ainda menos, com R$ 459. Esses dados, extraídos da reportagem “Blogueiras negras ganham menos em campanhas e são minoria nas redes”, de Pamela Dias, não apenas expõem a persistente exclusão, mas também incentivam uma reflexão sobre como a indústria publicitária precisa evoluir para abraçar a diversidade e a igualdade de oportunidades.

Pesquisa 'Um retrado dos creators pretos do Brasil'

As redes sociais online, verdadeiras protagonistas na revolução da comunicação, transformaram a maneira como nos conectamos, compartilhamos e consumimos informações desde o surgimento do Facebook. Essas plataformas criam um espaço digital onde a interação é constante, uma teia global de comunicação instantânea. No entanto, esse marco na evolução da comunicação também revela um desequilíbrio significativo no cenário publicitário. Atualmente, as redes sociais são o epicentro das estratégias de marketing, sendo o Facebook uma das pioneiras a moldar essa transformação.

Desde sua criação em 2004, o Facebook expandiu-se para bilhões de usuários ao redor do mundo, estabelecendo-se como uma das principais plataformas para compartilhamento de conteúdo, conectividade e, claro, publicidade. Segundo informações fornecidas pela IAB Brasil em parceria com a Kantar IBOPE Media, o investimento em publicidade digital atingiu a marca de R$ 30,2 bilhões em 2021. Esse valor representa um aumento de 27% em comparação ao ano anterior, quando o montante investido foi de R$ 23,7 bilhões em 2020. Essa quantidade expressiva de investimento, entretanto, não se traduz igualitariamente quando consideramos a representatividade racial nas campanhas. 

A predominância de imagens e figuras brancas ainda persiste, revelando a urgência de uma mudança significativa para garantir uma publicidade mais inclusiva e representativa em um dos espaços de maior impacto na comunicação contemporânea. O Censo de diversidade, equidade e inclusão da ABA, divulgado em 2023, revela que ainda precisamos trabalhar muito em busca de uma publicidade plural.


Desafios raciais na publicidade digital

Em um universo digital que deveria ser um reflexo fiel da nossa sociedade diversificada, a exclusão de influenciadoras negras do cenário publicitário brasileiro é uma realidade perturbadora que clama por transformação. Ao explorarmos as entranhas desse problema, escancaram não apenas números e estatísticas, mas vozes autênticas que resistem à marginalização. 

A pesquisa aprofundada revela não apenas a exclusão, mas a desvalorização financeira persistente. Num ambiente onde as redes sociais moldam a narrativa contemporânea, o desequilíbrio racial nas campanhas publicitárias não é apenas um reflexo das plataformas, mas uma escolha consciente da indústria. À medida que avançamos, é fundamental questionarmos e desafiarmos esses padrões, construindo um ambiente digital que celebre a riqueza da diversidade e mostre a autenticidade de todas as vozes. A revolução está além da tela, e é hora de romper as barreiras que silenciam e limitam, abrindo espaço para uma representação verdadeiramente inclusiva e igualitária.

02 dezembro 2023

Tranças-afro: pessoas brancas podem usar? Descubra o debate atual!

dezembro 02, 2023 0

 Entenda a polêmica em torno do uso de tranças-afro por pessoas brancas e descubra o significado cultural por trás desse penteado tão especial.





Tranças afro são mais do que um simples penteado — são expressões culturais ricas em história e significado. Originárias da África desde o início dos séculos, essas tranças eram símbolos de identidade, resistência e orgulho para homens, mulheres e crianças de diversas classes sociais. Recentemente o debate sobre se pessoas brancas podem ou não usar tranças-afro voltou a ganhar força nas redes sociais.

A discussão surgiu quando a trancista Cintia Antunes (@trancas_aotopo), foi questionada por seguidores por trançar o surfista Gabriel Medina. Pessoas negras tem levantado preocupações, argumentando que a falta de noção sobre o significado histórico das tranças por parte de pessoas brancas pode ser interpretada como desrespeito. Afinal, é importante considerar que, desde a escravização de pessoas pretas, as tranças eram proibidas pelos senhores e vistas como símbolos de resistência para os pretos.

Cíntia, profissional de Nilópolis, é conhecida por ser a mulher que faz a cabeça de várias celebridades no país. A cabeleireira já mostrou em suas redes sociais seu trabalho na cabeça de personalidades como o artista Veigh e o cantor Mc Cabelinho. Em um vídeo que já conta com mais de 1 milhão de visualizações, Cíntia mostra o antes e depois das tranças-nagô na cabeça do surfista Gabriel Medina. Alguns comentários criticavam o fato de uma pessoa branca estar usando trança, enquanto outros até questionavam o profissionalismo de uma mulher negra que aceitou trançar uma pessoa branca. 


A profissional respondeu aos comentários: “trancasaotopo@gmail.com, é o meu pix galera, para os especialistas em tranças, o meu aluguel não ver a cor de quem tá pagando e nem como vai pagar, então pra vocês que tão falando m*#4@ e não tem o que fazer, vou parar e viver do pix de vcs.”. O comentário já contava com mais de duas mil curtidas no momento dessa publicação.



Laços que tecem história e empoderamento: o significado profundo das tranças-afro

As tranças afro, além de seu valor estético, eram e continuam sendo um meio de preservar a cultura do povo negro. Enquanto, para algumas pessoas, o uso dessas tranças pode ser apenas uma tendência estética, é fundamental reconhecer o papel histórico e simbólico que elas carregam. Atualmente, as tranças-afro também representam um símbolo de empoderamento para a comunidade negra.

A teoria da apropriação cultural desempenha um papel significativo nesse debate.

Pessoas brancas que utilizam elementos da cultura afro-brasileira sem compreender o significado histórico podem, mesmo sem querer, ofender a comunidade negra. Essa apropriação não se limita apenas às tranças-afro, também pode estar nas roupas, acessórios, música e até mesmo linguagem. A falta de sensibilidade para com o racismo estrutural aprofunda as feridas dessa questão, destacando desigualdades que persistem na sociedade.

O racismo estrutural também promove a discriminação estética.

Também é importante dizer que os cabelos de pessoas negras frequentemente são alvo de julgamentos discriminatórios enraizados no racismo estrutural. Pessoas negras, em muitos casos, são estigmatizadas e marginalizadas quando escolhem expressar sua identidade por meio de penteados. Por outro lado, quando pessoas brancas adotam as tranças, muitas vezes são ovacionadas pela sociedade, tornando-se símbolos de um padrão estético admirado. Essa disparidade reflete não apenas uma questão de gosto, mas um reflexo mais profundo das desigualdades estruturais. Colaborar, conscientemente ou não, para a manutenção desse sistema ao elogiar um padrão estético predominante é, de fato, uma forma sutil de perpetuar o racismo, uma vez que reforça a ideia de que alguns padrões são superiores aos outros.

Desatando nós culturais: o chamado à empatia na conversa sobre tranças afro

A discussão sobre se pessoas brancas podem ou não usar tranças afro reflete uma conversa muito maior sobre respeito, compreensão e reconhecimento das raízes culturais deste país. O objetivo não é proibir, mas sim incentivar a empatia e o respeito. A valorização da diversidade cultural é fundamental para construirmos uma sociedade mais justa e inclusiva. Afinal, as tranças afro são mais do que um penteado — são laços que conectam um passado ancestral, um presente de construção e um futuro antirracista para nós.

29 novembro 2023

Mulher negra: STF sem representatividade é reflexo do racismo estrutural

novembro 29, 2023 0

Indicação de Flávio Dino ao STF é mais uma demonstração do racismo estrutural no Brasil

O Supremo Tribunal Federal (STF) é o órgão máximo do Poder Judiciário brasileiro. É composto por onze ministros, nomeados pelo presidente da República e aprovados pelo Senado Federal. A indicação de uma mulher negra para o STF seria um passo importante para a representatividade da população negra no Poder Judiciário, instância historicamente dominada por homens brancos.

No fundo, já sabíamos que não daria. Mas lutamos porque nossa essência é essa, foi assim a comunidade negra do Brasil chegou até aqui, resistindo e sonhando. No entanto, esse não é um texto para lamentar o ocorrido.

Foto: Arquivo Pessoal | Lívia Teodoro

A experiência de ser uma pessoa preta no Brasil é profundamente piorada pelo conhecimento e politização. O que é contraditório, afinal, a educação é ferramenta fundamental para a superação do racismo estrutural e para o avanço da comunidade afro-brasileira. O que acontece, é que especialmente a politização nos obriga a conviver com uma branquitude supostamente progressista, mas, só até a página 13. Uma branquitude que, embora se declare de esquerda e antirracista, é incapaz de abdicar dos privilégios consolidados ao longo de séculos em prol do combate do racismo estrutural.

Desde o anúncio do nome de Flávio Dino para ocupar a vaga da ministra Rosa Weber no STF, no último dia 27 de novembro, instalou-se um clima de “não reclame, com Bolsonaro era pior”. A tônica usada para silenciar o movimento negro que bancou uma campanha internacional exigindo que o presidente Lula indicasse uma mulher negra para ocupar a vaga deixada após a aposentadoria da Ministra Rosa Weber. A campanha recebeu o apoio de artistas, intelectuais e políticos de todo o mundo.

Não há discordância de que o governo de Jair Messias Bolsonaro foi pior, bem pior. Foram 4 anos de corrupção, genocídio e a aplicação da necropolítica em larga escala, onde o racismo mudou os rumos da pandemia de COVID-19, tornando a população negra mais vulnerável. E foi exatamente por isso que nós, mulheres negras, tiramos o genocida da presidência. A branquitude não precisa nos contar sobre isso, afinal, nós estávamos na linha de frente lutando contra o bolsonarismo, vimos o processo. Somos o processo.

Foto: REUTERS/UESLEI MARCELINO

Em primeiro de janeiro estivemos representadas na posse presidencial, na figura da Aline Souza, quando pela primeira vez na história o presidente eleito recebeu a faixa presidencial das mãos de uma representante das mulheres negras brasileiras, mas, a porta do poder foi fechada na nossa cara ali. A negação de indicar uma mulher negra para o STF mostra que mulheres negras dão engajamento em fotos como esta, mas, jamais ocupando espaços de tomada de decisão.

Também foi graças ao movimento de mulheres negras que Lula foi eleito presidente em outubro 2022, no entanto, a dívida que estamos cobrando têm muito mais de um ano. Ao indicar Flávio Dino para ocupar a vaga no STF, Lula demonstra que escolheu ser mais um presidente a empurrar com a barriga o início da reparação de dívida histórica.

São mais de 500 anos e durante esse tempo, o Brasil colocou as mulheres negras onde queria, nos tirando de tantos outros lugares, mas mantendo o compromisso de não considerar a dívida secular que têm com esta parcela da população.

Com isso, a branquitude encontrou uma nova justificativa para seguir sendo racista: a defesa de uma suposta governabilidade. Mas, o que essa branquitude nunca assumirá é que estamos todos numa piscina muito funda e quando a água bate na bunda da parcela privilegiada da população, brancos, significa que as mulheres negras já se afogam há muito tempo. E na defesa desta suposta governabilidade, o pacto narcísico da branquitude se afirma, colocando em segundo plano a cobrança por direitos historicamente negados a população negra.

A indicação de Flávio Dino para o STF é um descaso com a população negra do Brasil. É mais uma demonstração de que o racismo estrutural está vivo e forte no nosso país.

No entanto, a luta não acaba aqui. Os movimentos negros seguirão se organizando e pressionando as autoridades para que, um dia, tenhamos a primeira mulher negra ministra do STF. Essa é uma luta justa e necessária, que deve ser apoiada por todos que se preocupam com a democracia e a justiça social no Brasil. Sabemos que esse é um caminho longo e difícil, mas estamos dispostas a percorrer todos os obstáculos para conquistar nossos direitos.