A desigualdade racial ainda é uma barreira invisível e persistente para mulheres negras que buscam reconhecimento e oportunidades profissionais no Brasil.
“A única coisa que separa as mulheres negras das outras é oportunidade.” A frase, dita por Viola Davis, atriz estadunidense premiada e uma das principais referências na luta por representatividade, resume bem o que ainda separa tantas mulheres do sucesso. Assim como Viola, outras mulheres negras se destacam em diferentes áreas: Maju Coutinho no jornalismo, Taís Araújo nas artes, Adriana Araújo na música e eu, no campo da influência digital. Em comum, todas enfrentam um cenário onde as oportunidades ainda são muito diferentes quando o assunto é raça.
A estética é um ponto fundamental nessa discussão. Nossos cabelos, nossos traços e o formato do nosso corpo podem funcionar como barreiras racistas no momento em que buscamos uma vaga de emprego ou ascensão na carreira. É preciso ser uma mulher negra para compreender o que significa ter um currículo impecável e, ainda assim, sentir que seu cabelo pode te impedir de ocupar determinado espaço.
Segundo a pesquisa Mulheres Negras na Liderança, realizada pelo Pacto Global da ONU no Brasil em parceria com a 99Jobs, oito em cada dez empresas no país têm, no máximo, 10% de mulheres negras em cargos de liderança. Em um país com mais de 110 milhões de pessoas negras, esse número revela a dimensão da exclusão: como é possível que menos de 5% das mulheres negras estejam em posições de destaque nas grandes empresas?
A historiadora Beatriz Nascimento já alertava sobre essa estrutura desigual:
“A mulher negra, elemento que expressa mais radicalmente a cristalização dessa estrutura de dominação, vem ocupando os mesmos espaços e papéis que lhe foram atribuídos desde a escravidão. Dessa maneira, a ‘herança escravocrata’ sofre uma continuidade no que diz respeito à mulher negra. Seu papel como trabalhadora, de modo geral, não mudou muito.”
Ela completava que, além dessa herança histórica, novos mecanismos de manutenção de privilégio seguem limitando o acesso das mulheres negras aos espaços de poder. Ou seja, o racismo de ontem continua moldando o mercado de trabalho de hoje.
Ainda estamos longe de alcançar um país verdadeiramente equânime. No entanto, quem possui privilégios de raça pode contribuir sendo antirracista. Iniciativas que ampliam a visibilidade de mulheres negras e fortalecem o conceito de “lugar de fala” ajudam a abrir caminhos. Falar sobre privilégio não é negar que pessoas não negras enfrentem dificuldades, mas reconhecer que suas trajetórias não foram dificultadas pela cor da pele.
Existem muitas formas de colaborar com a luta antirracista: consumir conteúdos produzidos por mulheres negras, indicar profissionais negras, estudar sobre o tema e apoiar suas iniciativas. Do ponto de vista da transformação social, é essencial acessar toda a gama de saberes, acadêmicos e populares, que vêm sendo produzidos sobre raça e gênero. Quando entendermos que o debate antirracista não é um bicho de sete cabeças, mas um caminho para gerar mudanças reais, o desconforto dará lugar à ação.
O Brasil tem um jeito cordial de expressar seu preconceito por meio do racismo institucional. Frases como “esse cabelo não está adequado ao padrão da empresa” ou “você não se encaixa no perfil” escondem a mesma lógica discriminatória que atravessa séculos. Em um país que viveu mais de 300 anos de escravidão, ainda é difícil reagir, mas é impossível ignorar.
O racismo que impede o avanço das mulheres negras, aquele mesmo que Viola Davis aponta como a falta de oportunidades, não é um problema individual, e sim estrutural. Cabe à sociedade ser a ponte entre essas mulheres e as oportunidades. O sucesso, como sempre, nós garantimos.


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