10 novembro 2016

Se forem racistas com você apenas se cale: como tratar racismo, por Morgan Freeman

Começa o mês de novembro e junto com ele, vem a chuva de compartilhamentos da "célebre" frase de um senhor chamado "Morgan Freeman". Morgan Porterfield Freeman Jr., é um ator, produtor, narrador e diretor de cinema estadunidense, nascido em 1937. Em 2009 o ator concedeu uma entrevista falando sobre racismo e desde então, atribuíram à ele uma frase que carrega, supostamente, uma ideia revolucionária que acabaria com o racismo no mundo.

Todos os vídeos aos quais tive acesso estão grosseiramente editados e, por este motivo, fica impossível eu afirmar ou negar a veracidade da fala, mas no post de hoje, vou tentar explicar de maneira simples e didática, honrando minha futura licenciatura, porque é que o racismo não deixará de existir, se nós apenas deixarmos de falar dele.

A primeira coisa à se fazer, com certeza seria desconstruir esta ideia de que o racismo é apenas uma questão de opinião. Talvez você considere uma "opinião preconceituosa", torta, errada, engraçada, vazia, tanto faz, mas considerar o racismo apenas uma "questão de opinião", seria diminuir a importância e o tamanho do estrago que ele pode fazer na vida da população negra em geral. Racismo é um crime, previsto na lei Nº 7.716 de 5 de janeiro de 1989, pode ser lida neste link a lei que regulamenta e prevê as punições para o crime de racismo, para casos em que uma pessoa for IMPEDIDA de realizar diversas ações em virtude da sua raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional e por impedir, a lei quer dizer diretamente ou indiretamente, barreira física ou moral para que isto aconteça. Crimes de ofensa à honra são chamados de injuria racial, com punição prevista no código penal e valem para a vida virtual também. Em resumo, se você chamar alguém de "macaco" é injuria racial, se você impedir o macaco de entrar numa loja, comprar um sapato, ir ao cinema, é RACISMO! 
Escurecida a diferença, ainda fica evidente que ambas as ações são CRIMES, certo? Não é brincadeira, questão de opinião, questão de gosto ou  qualquer outro termo que você queira usar para reduzir a gravidade do ato cometido.
Outro ponto à ser considerado que é de extrema importância, é: o racismo se apresenta em diversas esferas da sociedade. Não ocorre "apenas" na internet, em casos isolados ou com um ou outro negro na rua. O racismo estrutural é um ótimo exemplo disto, atingindo 99% das nossas instituições sociais os negros são afetados todo o tempo e prejudicados dia após dia. Na saúde pública, educação e principalmente segurança, que no caso das pessoas negras, na maioria das vezes, não representa estar seguro de fato, a sociedade estruturada sob bases racistas, considera o negro uma ameaça para a segurança e não indivíduo que deva usufruir de, sendo protegido e resguardado por ela. Todos os dias é possível encontrar uma nova pesquisa escancarando o sistema genocida da população negra, um ato protagonizado pelo que deveria ser, a "segurança pública". Negros são a maioria nas prisões e a minoria em cargos de chefia, mulheres negras são a maioria em clínicas psiquiátricas e minoria na mídia, crianças negras são a maioria em situação de rua e a minoria em escolas infantis, é por conta do racismo estrutural que esta conta não se equipara. O racismo no sistema público de saúde, por exemplo, mata todos os dias com doenças que se tratadas com atenção, poderiam ser curadas ou mesmo receberem tratamentos paliativos dignos, mas por conta de uma sociedade racista, negros e negras perdem a vida esperando serem tratados em equidade. É bom dizer, que o próprio Ministério da Saúde iniciou uma campanha visando reduzir os casos de racismo dentro do sistema, mas a campanha acabou "caindo no esquecimento" neste ano.
Muitas vezes por interpretação da lei, crimes de racismo que são inafiançáveis e imprescritíveis, acabam sendo lavrados como apenas injuria racial, onde a pena é mais branda, muitas vezes convertida em prestação de serviços à comunidade. E talvez por isto, as pessoas ainda não tenham ligado o crime à sua devida seriedade, sendo levadas à acreditar que o racismo é só uma questão de "assunto" ou "opinião" e como tal, será resolvido na conversa ou mesmo se "esquecendo o assunto".
Entendendo, ainda que superficialmente, a questão do racismo no Brasil e como ele extrapola a questão de "opinião pessoal", é muito mais fácil desconstruir esta ideia de que o racismo é apenas uma ação  com prejuízos no campo subjetivo. O racismo mata, adoece e dizima a população negra brasileira, desde que fomos sequestrados para este país e nem em tempos de grande opressão, como no período da escravidão em que não poderia se reclamar de ser escravo, afinal era a única condição possível para os negros, nem nesta época em que se falava pouco ou nada sobre racismo, ele deixou de existir, então porque agora isso funcionaria? Se hoje, alcançamos pontos significativos de expressão dentro da sociedade, não foi deixando de falar ou nos calando diante das situações de racismo vividas cotidianamente, mas sim, discutindo e elaborando o tema com conversa, luta e muita disposição.

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