13 fevereiro 2016

O EMPODERAMENTO GERALMENTE COMEÇA EM CASA



Ao contrário do que muitos imaginam, a maioria dos negros empoderados da minha geração não vem de uma família que tenha vivido o movimento negro ativamente ou ao menos apoie a luta. Este é o meu caso e de grande parte dos meus amigos na mesma faixa etária, muitas das pessoas que eu conheço na minha idade estão representando a primeira etapa da família que se interessa, se empenha e luta pelas questões raciais. Portanto, amiga que está começando agora a transição capilar ou começando a assumir a sua negritude de alguma forma, não ache que você é a única que a família acha que está ficando maluca, você não é a diferentona!
Faz pouco mais de dois anos que comecei a me interessar por estudar a história do povo negro e assumir o meu cabelo, isso me trouxe a necessidade de externar e vivenciar tudo aquilo que eu estava aprendendo. Bastou isso para começarem as perguntas que muitas já conhecem e ouviram "mas não vai mais dar um jeito nesse cabelo?" ou "mas você só fala nisto agora"... E por aí em diante centenas de perguntas que, além de serem incomodas nos trazem aquela sensação de que estamos sozinhos na luta onde na maioria das vezes o refúgio acaba sendo as redes sociais. Foi assim que acabei onde estou hoje (risos) escrevendo e falando com algumas pessoas na internet porque em casa mesmo é meio impossível conversar sobre este assunto. Não acredito que seja culpa da minha família serem negros e reproduzirem um pensamento tão colonialista, prefiro pensar que somos uma "versão melhorada" que hoje procura sim tocar na ferida e afrontar todos os padrões  racistas que a sociedade impôs. Exatamente pelo avanço das redes sociais, hoje conseguimos nos articular, combinar ações com mais facilidade e, na época da minha mãe por exemplo isso era muito mais difícil e a minha luta é para que a geração do meu filho já chegue mais adiante que nós chegamos.
Ser um negro empoderado numa família que prefere dar uma de "somos todos iguais", quando na verdade não somos e exatamente por isso merecemos respeito pode ser muito complicado. Você tende a virar "o chato da família", "aquele que vê racismo em tudo" ou "aquele que não tem outro assunto"... E acredite, eu entendo você porque eu também sou a chata-do-rolé-amiga-do-processinho. HAHAHAHA!
Principalmente para as meninas em transição a família costuma ser cheia daquelas pessoas que mais te desanimam (com exceções ok? Tem famílias lindas que apoiam e procuram compreender o empoderamento dos jovens), aquela tia que vive lhe oferecendo uma progressiva, aquele pai que ameaça caso você faça o BC muito cedo (corte os cabelos bem curtos). Não é fácil, não é mesmo, por isso precisamos estudar e conhecer cada vez mais sobre a nossa história afinal não adianta só fechar a cara e falar mal dos parentes, você só vai conseguir ser respeitada ou respeitado caso tenha argumentos sólidos que embasem a sua luta e quem sabe, dependendo do quão persuasiva ou persuasivo você for, além de respeito você ganhe também o apoio de toda a família?
Conversar com os amigos virtuais sobre os assuntos que nós gostamos e enchem os nossos olhos é relativamente fácil, difícil mesmo é desconstruir aqueles que estão tão próximos e tiveram muito menos acesso a informação como nós temos hoje. E geralmente na porrada não funciona, tem que ter muita paciência mesmo para desconstruir e empoderar os nossos mais próximos!



2 comentários:

  1. Eu ja tinha decidido ficar calada em casa.Por que elas ficam procurando reportagens na internet assistindo videos onde brancos e ate negros exaltam a suposta igualdade.Ai ficam rindo de mim.Apoiaram minha transição nem sei porque.Aliás eu sei.Esperavam um cabelinho enroladinho,cheio de cachinho.Quando meu cabelo seca começa o inferno.E o turbante então.kkkkk No inicio era"Atras de mim vc não vai com esse negocio" e hj "Uma pessoa com um cabelo melhor não precisa usar esses torços"

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  2. Sim isso mesmo , empoderamento começa em casa ! Infelizmente eu quando nova não tive isso em casa , pelo contrário era o primeiro lugar em que me sentia a mais feia , e mai preta e mais humilhada ! Até que um dia me descobri mulherão negra , sim eu podia sim ir em todos os lugares , fazer muitas coisas que antes achava que não podia por ser negra . ai sim , ninguém me segurou mais ! Então com meus filhos faço tudo para cada dia empoderá los o máximo , pois é isso que vai fortificar e ajudar los a enfrentar esse mundo que ainda está com raízes profunda de racismo e preconceito !

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