15 fevereiro 2016

SOBRE RÓTULOS: SABE A LÍVIA? AQUELA PRETINHA MARRENTA...



Cresci acostumada a ser rotulada desde a época da escola, e NUNCA eram rótulos legais assim de primeira, sou aquele tipo de pessoa que geralmente depois da primeira conversa sempre escuta: "Nossa! Achei que você não era legal, antes de conversar com você". Eu aprendi que não posso dar muita trela para os homens, desde criança nós meninas somos ensinadas que nós é que devemos tomar cuidado com os meninos, eles nunca são ensinados que devem nos respeitar. Então como era esperado eu cresci criando barreiras entre eu e os homens que não estivessem no meu círculo de convivência (e isto permanece pois confio cada vez menos nos homens). Cresci numa sociedade machista e até bem pouco tempo não tinha consciência, de que a estrutura que fomos criadas é que faz com que consideremos imediatamente qualquer mulher como "inimiga", isto cria uma antipatia por vezes intransponível entre mulheres, afinal "ela pode ser invejosa" ou "uma recalcada" querendo tudo o que é seu, somente hoje tenho consciência de que não é bem assim.

Mas alguns rótulos me acompanham desde esta época, hoje mais empoderada, conhecendo mais de como racismo e machismo caminham lado a lado, consigo fazer uma análise de rótulos que são comumente associado às mulheres negras. Quem nunca ouviu a expressão "neguinha de favela" ou "neguinha barraqueira"? Referindo-se a mulheres nervosas ou histéricas.
Normalmente a sociedade não ouve as mulheres, se ela for uma mulher preta então? Piorou! E qual a saída para sermos ouvidas? Falarmos de forma firme e se necessário for, gritar para que nossa voz seja percebida. Não há nenhum problema nisto, o problema está na sociedade que é doente, e tenta a todo custo dar a entender que as mulheres que "não se comportam como devem" precisam ficar a margem. O caso é que a saída para nós termos voz é nos comportar de maneira firme, por isto a sociedade está o tempo todo nos colocando a margem.

Os rótulos são vários: de antipática por não dar risadinha de piada racista, machista, misógina, transfóbica, gordofóbica, ou de marrenta por não achar que eu sou pior que ninguém não deixando nunca de me colocar quando acho que devo, de folgada pois respondo a altura toda e qualquer ofensa, venha de quem venha... Estes esteriótipos sempre me acompanharam, mas hoje fazem mais sentido quando vem de homens machistas, gente racista e outras pessoas com a cabeça de senhores e sinhás de engenho.

E aí você deve se perguntar: Como lidar com isto Lívia? Não se lida, se as pessoas lhe rotulam por conta de esteriótipos racistas este é um problema da sociedade e não seu! Ninguém tem que ser racista, machista, gordofóbico ou ter qualquer outro tipo de preconceito, para ser aceito. Se a turma que você anda está lhe dando estes rótulos por estes motivos, talvez esteja passando da hora de você rever o seu círculo de amigos, não é mesmo?

Ao longo dos anos da minha vida, melhorei muito como pessoa e principalmente após a maternidade, pude experimentar ser um tipo de ser humano que nem eu sabia que conseguiria, muito do meu imediatismo foi embora e hoje minhas repostas rudes são direcionadas ao "alvo certo". Então quando vierem críticas, lembrem-se que as mulheres negras vem carregando rótulos a muito tempo pois fomos criadas numa sociedade que é obrigatório saber se defender. Quanto as criticas que recebemos, temos que absorver os pontos de melhoria e o resto deixar ir assim como chegou, estes esteriótipos que criam para a nossa  raça é um problema deles. Racistas, machistas e todos os outros preconceituosos terão que aprender a lidar com esse novo modelo de sociedade, em que os oprimidos não se calarão.

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