Valdina Pinto, é uma mulher negra, professora, líder comunitária e religiosa, marcada pela fé e pela luta por dignidade de todos os brasileiros afro-descendentes, especialmente das mulheres negras . Ela foi contada no vídeo-documentário “MakotaValdina: Um jeito negro de ser e viver” (vale muito assistir a este documentário, são dezenove minutos que enriquecem e muito nosso repertório) um dos vencedores do Primeiro Prêmio Palmares de Comunicação – Programas de Rádio e Vídeo, realizado no ano de 2005. Nascida, criada e sempre moradora do Engenho Velho da Federação, bairro de Salvador onde se registra a maior concentração de Terreiros de Candomblé, ela é reconhecida como educadora, religiosa, ambientalista e militante negra. No ano de 2005, foi proclamada “Mestra de Saberes” pela Prefeitura Municipal de Salvador.
Como educadora e Makota de terreiro, Valdina vem lutando desde a década de 1970 contra a intolerância, principalmente a religiosa. Ela se posiciona na sociedade como militante e fez questão de impulsionar as mudanças na própria religião. Como ela diz, "é preciso ser sujeito dessa história e não objeto". Sobre a visão da vida, comunidade e religião, Makota acredita que nada vive em separado. Tudo para ela é uma relação única. Uma das lutas da educadora é que o Candomblé precisa ser mais respeitado no Brasil.
"A nossa negritude sempre foi exportada como algo mágico, como algo folclórico e não como a cultura de um povo. Mesmo porque nós ainda lutamos contra racismo, preconceito e discriminação. Quando me tornei uma ativista e que comecei a falar de uma outra maneira, mostrando o candomblé, mostrando o sujeito de quem vive, eu me dei conta que nós éramos objeto de pesquisa, alguém falava sobre nós. Então foi intencional empunhar essa bandeira religiosa para desconstruir uma série de estereótipos e teorias desenvolvidas sobre nós e que eu considero ainda inverdades.
É preciso que cada vez mais sejamos sujeitos de nossa fala, nossa escrita, de nossa história. É preciso parar de ser objeto. É preciso dar essa voz, dar esse espaço. Nesse ponto eu acho importante o fato da Flica me convidar, porque eu acho importante eles me darem um espaço para poder falar sobre isso, além de estar em uma mesa junto com Pepetela e, por meio dessa oportunidade, desconstruir essa imagem"
Em entrevista a Revista Palmares Valdina contou da sua vida, da sua trajetória de empoderamento do povo negro e suas lutas para nossa valorização, o link para download da publicação ESTÁ AQUI e todos podem baixar e ler na íntegra além das partes que eu achei importante destacar abaixo
Revista Palmares: Você se considera uma “sábia negra”? Não, eu me considero uma aprendiz. Dizem que eu sou uma sábia. Na semana passada, fui homenageada com uma placa como mestra de saberes populares. Então eu digo: a negra que eu sou, o ser humano que eu sou, sou porque aprendi com os meus mestres. Meus primeiros mestres foram meus pais. Meus segundos mestres foram os outros negros da comunidade do Engenho Velho da Federação. Na primeira escola que estudei, minha primeira professora escrevia as letras e os números em uma pequena pedra, uma lousa apoiada em madeira. Meu lápis era também feito de pedra. Aqueles negros, aquelas negras, mulheres e homens da comunidade onde nasci, cresci e moro até hoje, foram os meus primeiros mestres. Naquele tempo a família era extensa. A comunidade era uma família. E ali a gente ensinava o que aprendia. Toda criança era responsabilidade de todo adulto. A gente aprendia dentro de casa a fazer as coisas, a cuidar da casa, a cuidar de outros. Como era a terceira filha e a mais velha das mulheres, aprendi também a ter cuidado com outros e com as crianças. A sabedoria que tenho hoje é que me foi passada por eles.
Revista Palmares: Quando a percepção das diferenças sociais e da discriminação foi sentida por vocês? Naquela época todo mundo era igual. Essa situação começou a mudar a partir da década de 70, quando aquele grupo começou a ver lá fora o outro. A gente vivia aquele mundo dali, onde todos eram iguais. Quando começou a chegar o progresso, o “Mata Maroto” passou a não ser mais Mata Maroto, e sim “Cardeal da Silva”. O asfalto chegou ali. A Horta dos Padres já começava a deixar de ser Seminário e passou a se transformar no que é hoje a Faculdade Católica. O Quebra Laço, onde hoje é a Escola Via Magia, onde a gente tirava mato para enfeitar a casa no final de ano, passou a ser desmatado. Foi uma fase em que Salvador começou a inchar e o Engenho Velho começou a ter uma outra cara. Também no início dos anos 70, chegou a televisão, começou a chegar uma invasão de outros jeitos, de outras formas de vida. Neste momento surgiu o Ilê e o Movimento Negro. De um lado a gente encontrava uma forma de se expressar, juntamente com outros grupos que tinham o nosso mesmo jeito de viver, como os grupos lá do Curuzú. Por outro lado, vinham também informações de como a gente vi- via e de como éramos vistos. Até aí, achávamos que tudo estava legal, que esse era o nosso mundo. Começaram então a chegar informações de que existia um outro mundo e que você não era parte dele. Aí é que começou uma tomada de consciência. Em 1970, as coisas que eu vivenciava não eram questionadas. Em relação a mim mesma acontecia algo muito importante. Em 1970, fui convidada a ensinar Português para um grupo de voluntários, naquela época no Grupo Voluntários da Paz. Até aí eu não tinha noção de que o jeito como nós vivíamos era objeto de estudo, que tinha valor para alguém. Porque eu simplesmente vivia aquilo.
Fontes: PORTAL G1 | REVISTA PALMARES
A conheci num evento da Renafro, que aconteceu aqui em Ilhéus, e ela é um ser maravilhoso. Ah, Lívia, se você puder, pesquise sobre Mãe Beata de Yemanjá também, ela é uma grande referência na questão das religiões afro-bradileiras e na resistência da cultura negra. Por fim, amei o post. <3
ResponderExcluirAi Talita, que honra conhecê-la hein? Meu sonho!
ExcluirVou pesquisar sim com certeza, nossa história é tão rica né? Lamento tanto não ter me empoderado antes...
Que bom que gostou do post, a casa é nossa!