27 novembro 2018

BLUESMAN - O NOVO SOCO NO ESTÔMAGO, DE BACO EXU DO BLUES

O rap é uma paixão antiga e coisa de família, vem de anos na minha vida e confesso que eu sou do time que acha que rap é compromisso ou pelo menos deveria ser. Muito do que é chamado de rap hoje é mais uma coleção de palavras sem sentido do que qualquer outra coisa, o compromisso de colocar na música uma realidade que, desde a minha infância, faz parte da minha vida tem deixado muito a desejar. Até que Baco Exu do Blues entrou na minha vida.

Tretas do rap à parte, Baco é o meu som favorito dos últimos tempos e, bom, este texto não é para falar de tretas  moço é bom para alimentar confusões com outros no meio musical   é para falar do álbum incrível que o rapper liberou neste mês. 


Diogo Álvaro Ferreira Moncorvo ou, simplesmente, Baco Exú do Blues, o rapper de 22 anos ganhou o coração de várias pessoas com Te amo desgraça!, hino que não saiu até hoje das bocas, dos fones de ouvido e das pichações urbanas. Diogo é baiano, nasceu em Salvador e foi em setembro de 2017 que lançou seu primeiro disco solo, Esú. 

No último mês de novembro nos presenteou com o álbum "Blvesman (Bluesman)" e já está entre os álbuns da minha vida. São nove músicas de tirar o fôlego do começo ao fim do álbum.
  1. Bluesman
  2. Queima minha pele (ft. Tim Bernarde)
  3. Me desculpa Jay-Z (ft. 1LUM3)
  4. Minotauro de Borges
  5. Kanye West da Bahia (ft. DKVPZ e Bibi Caetano)
  6. Flamingos (ft. Tuyo)
  7. Girassóis de Van Gogh
  8. Preto e Prata
  9. BB King
A graça do rap, para mim, é ser arrepiante, aquela letra que fala tanto com você que te tira o ar, esta é para mim a definição perfeita sobre o álbum de Baco.

"Não quero mais dormir do seu lado
Prefiro ficar acordado
Guardando seu rosto pra lembrar de você
Lembrar de você, lembrar de você
O seu olhar é um caminho sem saída
Cê tem uma cara de quem vai fuder minha vida
Então só entro
O seu corpo é um caminho sem saída"

(Girassóis de Van Gogh - Baco Exu do Blues)

Girassóis de Van Gogh é a sétima faixa do álbum, um love song, está oficialmente atualizada a minha playlist de namorar, aliás, esta uma marca de Baco, músicas que falam do corpo sem pudor e sem criminalizar o que entendemos como sexo e troca de afetos. 
"Cê tem uma cara de quem vai foder minha vida...", existe forma mais sincera de elogiar o crush?
Outra faixa que chama atenção é Kenye West da Bahia, embora acredite que Baco desconsiderou algumas falas bem tortas do Rapper americano a faixa é bastante contundente.
"Eu espanquei Jesus quando vi ele chorando, gritando e falando que queria ser branco, alisar cabelo e botar uma lente pra ficar igual a imagem que vocês criaram."
(Kenye West da Bahia - Baco Exu do Blues)

Este é o álbum para você amar e odiar várias vezes   eu mesma só consigo amar   ouvindo e refletindo sobre o que o rap tem a dizer. Apesar da pouca idade, Baco consegue se expressar muito bem através de suas letras e, mais que isto, expressar esta juventude que vem se orgulhando em mostrar sua negritude, falando de si e se colocando como o centro da discussão, não como uma simples oposição ao outro - o Branco.



O filme oficial que abre os trabalhos, tem mais de oito minutos e faz uma referência ao negro enquanto prata e uma reflexão sobre porque o ouro é então mais valorizado. A oitava faixa do CD, Preto e Prata, precisa do filme para contextualizar, ou seja, o nosso rapper de apenas vinte e dois anos está fazendo bonito nessa produção, construindo uma lógica para seu conteúdo, uma maneira de prender o expectador. E, fez isso de maneira brilhante.
Se valorizar e se amar, conhecer a própria ancestralidade. Em referência Riley Ben King, mais conhecido como B. B. King, a nona faixa do CD fala tão bem e com tanta força sobre autodefinição que chega a arrepiar. BB King, nasceu em 1925 e recebeu o título de rei do Blues, 15 Grammys durante toda a carreira e uma extensa lista de prêmios e citações. O guitarrista faleceu em 2015.


"1903. 
A primeira vez que um homem branco observou um homem negro, não como um um “animal” agressivo ou força braçal desprovida de inteligência. Desta vez percebe-se o talento, a criatividade, a MÚSICA! O mundo branco nunca havia sentido algo como o “blues”. 
Um negro, um violão e um canivete. Nasce na luta pela vida, nasce forte, nasce pungente. Pela real necessidade de existir!

O que é ser “Bluesman"?
É ser o inverso do que os "outros" pensam. É ser contra corrente, ser a própria força, a sua própria raiz. É saber que nunca fomos uma reprodução automática da imagem submissa que foi criada por eles.
Foda-se a imagem que vocês criaram.
Não sou legível. Não sou entendível.
Sou meu próprio deus.
Sou meu próprio santo. Meu próprio poeta. 
Me olhe como uma tela preta, de um único pintor. Só eu posso fazer minha arte. Só eu posso me descrever.
Vocês não têm esse direito.
Não sou obrigado a ser o que vocês esperam! Somos muito mais!
Se você não se enquadra ao que esperam…
você é um “Bluesman”."

(BB King - Baco Exu do Blues)





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