O ÓDIO DO COLONIZADOR VESTE TERNO E GRAVATA - Imagem Projetado pelo Freepik |
Fazer ciranda e aplaudir o sol é privilégio de quem nunca precisou ser combativo.
Isso é o típico pensamento de quem nunca precisou viver “apesar de tudo”. Ser good vibes e previamente a favor da paz e do amor é privilégio de quem nunca foi odiado. Desculpa, amigo.
Você acredita nisso do seu contexto. Gente como eu, já cresce em modo defensivo. Não porque alguém vai me chamar de “boba, feia, chata”, mas, porque a sociedade me ensinou o que é ódio desde muito cedo. Gente como eu conhece o ódio e o que eu sinto está longe de ser comparado a "brancofobia".
Talvez vocês, brancos, nunca vão entender ou reconhecer o ódio que eu experimento. E talvez por isso seja fácil dizer que "acho que não precisam sair odiando todo mundo de graça...". Não é de graça, nunca foi. O ódio direcionado para mim e para o meu povo não é de graça. Custa caro, custa vidas e sonhos. E mata todos os dias.
Por isso, repito: É muito fácil criar raízes “good vibes”, se sua terra é “good vibes”. Se te regam com ódio, das suas raízes até sua última folha é ódio mesmo que vai sair.
Eu sou movida por ele, inclusive. E sei que isso não parece nada confortável. Mas quando o assunto é racismo, não pretendo trazer conforto à ninguém aqui, nem mesmo meus amigos.
Embora o desconforto seja necessário pra fazer vocês pensarem sobre isso, acho legal explicar o porque: Estamos numa sociedade em que pessoas negras vivem provocando fobias e medos em outras pessoas, até nos próprios negros. A instintiva escondida de bolsa dos meninos “maloqueiros” no busão, que toda pessoa já fez, vem desse medo social que paira sobre as nossa cabeças. Todas as cabeças.
Dentro deste medo estão os estereótipos que são as amarras que mantém a sociedade nesse looping infinito de preconceito e racismo. E um dos estereótipos atribuídos às pessoas negras, em especial mulheres, são os de violentas e raivosas. Mais recentemente, na internet, o título de “pessoas que apelam gratuitamente e saem distribuindo ódio como forma de revidar” também nos foi dado. Será mesmo que revidamos?
Lendo Homi Bhabha (O local da cultura), a gente entende que os estereótipos retroalimentam a sociedade racista.
O racismo divide as pessoas que "eram iguais" em violentos e dóceis. Os dóceis são aqueles que atendem a expectativa de comportamento ensinada pelo racismo, sejam eles brancos ou negros, os violentos se revoltam. A revolta é com a forma que somos tratados e daí o racismo nos leva ao limite do limite, para enfim poder dizer com provas, além de convicção: "Tá vendo, são violentos, distribuem ódio gratuitamente!".Só que não há nada de gratuito nisso, uma vez que a sociedade está diuturnamente sendo pensada e pensando para moer essa parcela social, para nos eliminar.
Frantz Fanon vai dizer exatamente que não somos capazes de desenvolver a paranoia clínica, porque não há nem espaço pra imaginarmos não sermos amados, quando convivemos com o colonizador, porque a verdade é que não somos mesmo.
Então, é isso, mais uma vez estou me dispondo a explicar que "apelar" com tudo, não é simplesmente apelar com tudo, devolver ódio de graça. O ódio reservado para nós custa caro, muito caro, já disse. E mesmo que todas as minorias do mundo devolvessem com "ódio", iria faltar racista pra pagar essa conta!
E lembrando que o "ódio" de que eu falo, não é "apenas" da parte de quem chama negro de macaco, mas principalmente de todas as formas de ódio: institucionais, na saúde, educação, saneamento básico, genocídio negro. Isso tudo é ódio.
Só que o ódio do colonizador geralmente veste terno e gravata. E até quando nosso ódio "veste terno e fala bonito", como Djamila, Filósofa e "bem vestida", essa galera privilegiada com uma vida de gratidão reclama que "não precisava, tão apelando com tudo...".
E blábláblá. Fim.
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