Foto: Carol Lopes | Sandrinha Flávia - Belo Horizonte |
Sandrinha Flávia é mineira, de Divinópolis e é também o que nós podemos chamar de multiprofissional, ela é Radialista, repórter, mestra de cerimônia, assessora de comunicação, produtora de eventos, empresária e editora da revista Canjerê. Atualmente, graduanda em jornalismo, Sandrinha está prestes à incorporar ao seu currículo uma nova profissão.
Mestre de cerimônia bastante requisitada, principalmente, nos eventos de temática afro que acontecem em Belo Horizonte, Sandrinha já é bastante conhecida por aqui. Na entrevista de hoje, vamos saber um pouco mais sobre uma, dos muitos de serviços desta preta: Locutora!
Sandrinha, você diria que escolheu ou foi escolhida, para exercer esta profissão?
É uma pergunta interessante! Em 2002 eu trabalhava nas lojas Rede na cidade de Divinópolis. Meu diretor dizia que achava a minha voz bonita (eu não acreditava). Comecei a anunciar algumas ofertas, morria de vergonha rsrsrs. Após sair da empresa, fiz um curso de locução com o mestre Garcia Júnior. Eu só fiz o curso, porque o diretor geral da empresa quase implorou para que eu pegasse o meu acerto e investisse na profissão de locutora. Durante o curso fui indicada para uma vaga de locutora em um shopping da cidade, após 1 ano recebi o primeiro convite para atuar numa rádio em Carmo do Cajuru, foi a porta de entrada. Fiz outro curso na Escola para Locutores Beth Seixas e foi este curso onde percebi que "até que eu tinha chance de ser uma grande profissional" mas, no fundo eu não sabia se eu queria, eu tinha a autoestima muito baixa, achava que era demais pra mim e que jamais teria condições de atuar na área. Antes eu achava que fui empurrada para a profissão, hoje analisando a minha trajetória, entendo que eu nasci para essa função. Na infância eu era apresentadora de um programa chamado Show Arco Iris rsrssr, era uma brincadeira onde eu apresentava um programa para as crianças da rua onde eu morava. Tinha show, brincadeiras e até as minhas assistentes: as Arcoketes!
Das dificuldades que você vê na sua profissão, associa alguma ao fato de ser uma profissional negra?
A maior dificuldade foi por eu não acreditar no meu próprio potencial e isso se deve ao fato de eu ser negra, sem dúvida nenhuma. O racismo me abafou, me calou durante anos e não me deixava avançar. Eu não me sentia digna de atuar na profissão, achava que só as pessoas brancas podiam. No início eu ficava incomodada quando os ouvintes iam me conhecer, manifestavam frustração quando viam, uma ouvinte até chegou a dizer que estava decepcionada porque achava que eu era loira e alta. Eu demorei muita para me afirmar na profissão, nem todos os eventos querem colocar uma mulher negra e crespa como mestra de cerimônia. Tem eventos em que vou trabalhar que é necessário uma luta para provar na portaria que eu sou a MC contratada.
No dia a dia da sua profissão, é possível inserir seu posicionamento acerca das questões raciais, de forma crítica?
Às vezes consigo, depende de onde estou atuando. Acho que o fato de ter uma mulher negra como locutora, repórter ou mestra de cerimônia já é uma forma de proporcionar uma boa reflexão pra muita gente. No meu trabalho fixo, na Nossa Rádio BH, conversamos abertamente sobre racismo nos bastidores. Sinto que essa temática ganhou força na emissora. Quando estou no ar consigo inserir a pauta mas, de forma bem sutil ainda.
E para finalizar, um conselho aos negros que desejam seguir nesta linha profissional:
Estudar muito e ter a certeza de que você também pode. Colocaram na minha cabeça que eu não podia, eu fui na marra e com várias pessoas empurrando, porque eu não acreditava que eu podia. VOCÊ PODE, não se esqueça disso!
Ser mulher e negra, numa sociedade racista e machista não é fácil, mas com muita resistência, esta profissional está provando que "Serviço de preto, também é muito bem feito"!
Amanhã, uma nova entrevista, com uma profissional de outra área. Vamos juntos dar um novo significado à esta expressão, nós podemos tudo!
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