10 setembro 2016

PORQUE NO FUNDO, A MULHER NEGRA NÃO IMPORTA

No fundo, vocês não se importam em como a mulher negra vai se sentir, vocês apenas fazem ou falam, do jeito que acham ser devido. Afinal, a gente nasceu para servir.
PORQUE NO FUNDO A MULHER NEGRA NÃO IMPORTA - Maju Coutinho e o lugar da mulher negra.
Acompanhando algumas pessoas levantando a possibilidade da Maju (jornalista, "Garota do Tempo" do Jornal Nacional entre outros da emissora Globo), ser apresentada como o "pivô" da separação de Willian Bonner e Fátima Bernardes. Nunca na história da humanidade, seres humanos se trataram de forma igualitária, sempre com distinção de gênero e por muito tempo de raça, mas uma coisa nunca pode deixar de ser dita: com a mulher negra, importa-se menos ainda. Exceto quando a nossa posição é pejorativa, não é mesmo?

No fundo ninguém quer saber se foi uma separação consensual, um fim amigável para ambas as partes ou se decidiram se separar porque simplesmente não se aguentavam mais, mas se tem uma mulher para culpar, será mais vendável e se esta mulher for negra, melhor ainda, não é mesmo?
Colocar a Maria Júlia Coutinho em posição de amante neste caso, é a prova de que para a sociedade a mulher negra não importa, se não estiver ligada ao homem (de preferência branco e hierarquicamente superior). Quando essa combinação acontece, então ela passa a ser peça central, pois é preciso "limpar a barra deste homem" na situação de separação, por exemplo.

Por que a o pivô da separação não poderia ser o próprio Bonner? Porque homens não são capazes de ser responsáveis pelos seus próprios atos? Com outras diversas mulheres trabalhando naquele jornal, porque o pivô da separação é a negra? Porque uma mulher deveria ser a peça central, mesmo ela não sendo a esposa (única mulher que de fato faz parte desta história, até onde conhecemos)? Reforça-se aí mais uma vez, a ideia de "branca para casar, mulata para foder e preta para trabalhar", que nós mulheres negras já conhecemos à séculos neste país.
Mais uma vez vem a tona a ideia de que a Maju não estaria ocupando o lugar que está por ter competência e talento, mas sim porque um homem a resguarda naquele lugar de destaque, um homem "banca sua concubina" em um posto de superior e em troca, ela se sujeita a ele. 
E vivendo num pais racimachista como o Brasil, é muito difícil as pessoas assumirem o seu racismo nesta hora. Antes de aceitar que, o que coloca a Maria Júlia Coutinho na posição de amante é o racismo que alimenta os esteriótipos carregados pela mulher negra neste país, mil e uma justificativas baseadas em "minha opinião", surgirão na tentativa de tapar o sol com a peneira.
PORQUE NO FUNDO A MULHER NEGRA NÃO IMPORTA - Maju Coutinho e o lugar da mulher negra.
Com a estrutura em que vivemos, não importa se ela trabalhou duro para chegar até onde chegou, não importa se Maju se destaca por sua competência, inteligência e currículo estruturado, sempre vão enxergar na Maria Júlia, a mulher negra "tipo exportação", bonita demais para que o Bonner "resista" à ela. Neste caso, ainda que houvesse alguma ligação entre os dois, não seria fruto de um interesse mútuo mas sim, uma mulher negra, sedutora cujo o homem não "conseguiu segurar a tentação". 
E assim, a sociedade prova que a mulher negra não importa. Não importa seu currículo, sua competência e preenchimento de todos os requisitos, se as pessoas puderem preencher seu preconceito com "a concubina", a "pivô de separações", elas farão isto sem nenhuma culpa, por que a mulher negra não importa.

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