16 novembro 2015

DESCONSTRUINDO A MERITOCRACIA

Marc Ferrez, 1882
Existe um mito no Brasil de que para conseguir status social ou patrimônios por aqui bastaria trabalhar bastante e teoricamente você conseguiria alcançar. Esse mito ignora fatores históricos muito importantes da construção do nosso país, como por exemplo o fato de que a população negra brasileira foi "jogada a própria sorte" quando a abolição da escravatura foi assinada e passou a ser considerada em território nacional! Anos de atraso social são fatores determinantes para que o conceito de meritocracia seja jogado por terra!
No período pós-abolição o povo negro teve seus direitos suprimidos para que pudessem importar trabalhadores europeus, estes sim com direitos trabalhistas e condições humanas de trabalho, grande parte destes ganhou ainda terras para que pudessem começar sua vida de forma digna junto de sua família neste país. Puderam trazer livremente sua cultura, seus costumes e crenças e sabemos que um ponto importante para a saúde de um povo é que mesmo sendo diáspora ele possa continuar alimentando e vivendo sua cultura onde estabeleceu morada. Prova disso, são as diversas colônias portuguesas, alemãs, italianas entre outras que preservam festas típicas, tradições da culinária e até a língua de seus países de origem. Não há como pedir para que um povo seja igualmente sucedido se ele não foi igualmente tratado! 
A Família - Tarsila do Amaral
Então hoje ó papo é com a turma do "Somos todos iguais por dentro e aos olhos do Pai. Quem quer estuda e corre atrás, não fica nesse mimimi de negro vítima. A escravidão faz tempo, basta correr atrás, não preciso de cotas para isso." Preciso contar um segredo para vocês, esse papo de "somos todos iguais" não condiz com as taxas de desemprego, genocídio, feminicídio, estupro, violência doméstica, etnia da população carcerária, população analfabeta, vítimas de violência obstétrica, vitimas fatais de negligencia médica, número de negros em cargos públicos, entre outras particularidades da população negra do Brasil.
Uma breve pesquisa pode mostrar em dados o quanto os negros possuem diferenças perante as leis e serviços básicos em relação aos demais povos que são imigrantes neste país.
Dados do Ministério da Saúde indicam que o perfil da maioria dos presos no Brasil, são de jovens entre 18 e 34 anos, pobres, negros e com baixa escolaridade, eles são 73,83% do total da população carcerária e destes 66% não chegaram a concluir o ensino fundamental. A renda média dos empreendedores brancos é 116% maior que a dos empreendedores negros no Brasil, apesar de os negros serem maioria empreendedora o racismo institucional pode explicar a menor valorização do trabalho da parcela negra.  Uma pesquisa do IBGE mostrou que a escala de sensação de segurança é 30 vezes menor em mulheres negras. O tempo médio de estudo de pessoas negras é de 6,5 anos enquanto o de pessoas brancas é de 8,8 em média. Na população em geral negros ganham 36% menos que brancos. Se reduzirmos o grupo de pesquisa para as mulheres o número sobre para 40%.
Paulica Santos
Entre as vítimas de agressão, segundo o IBGE no ano de 2010 proporcionalmente 1,5 eram homens brancos para 2,1 homens negros assim como,  1,1 de mulheres brancas para 1,4 mulheres negras. Outro dado que reflete a disparidade entre as populações de raça diferentes no Brasil é que 70% das famílias em situação de pobreza compatível com o recebimento do programa bolsa família são chefiadas por negros (não necessariamente homens). As pesquisas que demonstram as taxas de desemprego também podem ser consideradas provas cabais do racismo institucional atuando de forma alarmante contra o avanço da população negra do Brasil, segundo o IPEA em 2014 a taxa de desemprego era de 5,3% entre homens brancos e 6,6% entre homens negros. Avaliando somente mulheres, a taxa de desemprego das brancas é de 9,2% enquanto das mulheres negras chega a 12%, encontramos assim uma diferença ainda mais assustadora. Quando não fazem parte das estatísticas do desemprego a realidade de remuneração da população encontra uma outra forma de demonstrar que a equidade salarial no nosso país está longe de ser alcançada, a renda média da população negra no geral é de R$921,18 que está abaixo da média nacional que é de R$1.222,90 enquanto a média salarial das pessoas brancas é de R$1.607,76 ou seja, acima da média nacional (dados de 2014).
Estas são algumas informações coletadas em pesquisas para outros fins ao longo deste ano mas que podem ser aprofundadas e constataremos de o quanto é fantasioso pregar o discurso de meritocracia em território brasileiro. Nenhum brasileiro que vive hoje é culpado da escravidão mas é preciso que o conhecimento abra os olhos destas pessoas que insistem em reproduzir esse discurso desonesto e os faça enxergar que os privilégios usufruídos ao longo de mais de 500 anos de história é que definem quem hoje tem ou não tem lugar ao sol na nossa sociedade. 
Ao longo do post, existem alguns links que demonstram os dados e podem escurecer ainda mais as questões para vocês! Abraços a todos e até o próximo post.

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