09 março 2020

O sofrimento negro não comove, convencer pelo choro é um privilégio branco

Uma coisa que peço ao meu Jesus Pretinho todos os dias desde que comecei acompanhar ao BBB via Twitter é: "não deixe o Babu reagir ao racismo da Marcela e sua patota, Jesus Pretinho, dê sabedoria àquele homem para que ele seja o mais pacífico possível - sim, isso é cruel - e nunca responda aquelas que se comportam como sinhás naquela casa. Por favor, Jesus Pretinho!"
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Babu Santana - BBB20
Porque?
Só é dada à branquitude o privilégio de comover com choro, de se desculpar por um crime de ódio e mais do que isso só é dada à branquitude o direito de ser superior as pessoas negras e também o direito de comover com o próprio sofrimento. Isso quer dizer que ninguém vai se lembrar do sofrimento que Babu sentiu ao dizer "ela me olha como a minha patroa me olhava" mas somente do "sofrimento" das mulheres brancas que provavelmente se dirão atacadas injustamente pelo homem negro raivoso. Aqui está mais uma preocupação que devemos ter.
Sempre que eu vejo uma mãe negra chorar pela perda de seus filhos eu recobro que a dor da mãe negra não comove e no máximo serve como entretenimento. Uma diversão sádica e cruel as custas do sofrimento de um corpo que não merece compaixão. O linchamento público de pessoas negras é tão antigo quanto o tráfico de pessoas negras para servirem como escravas nas Américas. O castigo físico era mais que uma punição individual, era uma punição coletiva destinada a coibir pelo medo e aquele sofrimento dos que eram castigados não comovia pelo simples motivo daquelas pessoas não serem consideradas humanas. E é na mesma ideia de desumanização que hoje eu afirmo, TODO O SOFRIMENTO DE BABU SERIA DESCONSIDERADO AO MENOR SINAL DE REAÇÃO CONTRA O RACISMO daquelas mulheres.

Fomos ensinadas à temer o homem negro. Inclusive as mulheres negras. O estereótipo de violento, cruel e besta-fera foi construído ao longo da história para consolidar o homem negro no lugar de não humano. Inclusive o estereótipo de "comedor e pauzudo" faz parte deste pacote. Assim como as mulheres negras foram colocadas no lugar de fogosas, insaciáveis, aquelas com as quais se faz tudo e não sentem nada. Como então nós estaríamos comovidos pelo sofrimento de criaturas que não sentem?

Babu tem uma carreira de dar inveja, excelente ator com uma filmografia incrível e muito culto, polido demais para reagir à altura do racismo que vem sofrendo ou mesmo nem ouça metade do que nós temos acesso aqui de fora com as câmeras e microfones atentos para cada sussurro. E talvez seja até bom ele não ouvir pois fica fácil Jesus Pretinho atender ao meu pedido!

Não é difícil saber o que acontece quando um homem negro reage contra o racismo de uma mulher branca. E dizer isso não quer dizer ignorar o machismo e a misoginia da nossa sociedade. Os homens negros não estão isentos de produzirem este comportamento, infelizmente. Mas aqui chegamos à uma situação delicada: COMO ENTÃO REAGIR E DENUNCIAR O RACISMO DAS MULHERES SENDO UM HOMEM?
Em 2014 o goleiro Aranha sofreu um ataque racista de uma torcedora do Grêmio. Aos berros a torcedora o chamava de "macaco". O goleiro reagiu, revidou, denunciou. E o próprio Aranha reconhece o apagão na sua carreira depois de ter se posicionado de maneira dura contra a torcedora. Se não formos dóceis e compreensíveis com o ato é grande o risco de que a racista passe para posição de vítima. Você consegue imaginar uma pessoa que cometeu um assassinato, um estupro ou um assalto pedindo desculpas e saindo pela porta da frente da delegacia mesmo quando presa em flagrante? Pois isso acontece com a maioria dos casos de injuria racial registrados no país já que para registrar o crime de racismo é preciso que a vítima "tenha a sorte" em encontrar um advogado e um delegado com disposição de usar a tipificação no boletim de ocorrência. Para entender a DIFERENÇA ENTRE RACISMO E INJÚRIA RACIAL você pode acessar este link.


É deste mesmo lugar que vem a ideia de docilidade, de que é preciso ignorar o assunto para que ele se resolva. "Se forem racistas com você apenas se cale: como tratar racismo, por Morgan Freeman" é um texto sobre como a ideia de que devemos ignorar para resolver é pensada para ser mais uma violência contra as pessoas negras. Se "segurar" - principalmente se você for um homem negro sofrendo racismo de uma mulher - é a máxima que deve ser seguida afinal você corre o risco de ser classificado como o agressivo, o nervoso, o violento contra uma figura que comove pelo choro e pela sensibilidade. E não há medida para reagir ao racismo sem transpor esta linha.

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Caso "Goleiro Aranha": Torcedora é acusada de racismo ao chamar o jogador de "macaco" durante partida do Grêmio.

5 comentários:

  1. Compartilhando já esse post. Não dá pra passar pano pra racista não. NOJO!

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    1. Sem chance, nega! Todo dia travando uma luta diferente, contra pessoas diferentes que reproduzem o racismo igualzinho! Tá foda, mas vamos lá!

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  2. Na boa o Babu é um santo. Eu no lugar dele no mínimo já tinha mandado pra desgraça essas patricinhas sem noção.
    Com racista Tem que resolver na porrada mesmo.

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    1. Eu concordo absolutamente. Mas a gente sabe bem o que vai ser reservado à ele caso ele trate elas como elas merecem, né... Eu também acho que ele tá sendo um santo

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